sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Infinito Precipício


Não foi desta vez. Mas pode apostar, terei dado cabo disto. Não é a primeira vez que acontece, não é; Muito embora, dessa vez a intensidade é menor, mas houve uma cronicidade de quem não tomou remédio quando deveria tomar, na fase aguda de toda essa coisa. É algo mais arrastado, mais apegado, de difícil desapego.

A escalada sequer começou, muito embora haja muita altura já, abaixo de mim. Cheguei num ponto em que desistir implicaria numa queda brusca, fugaz e fatal. Recomeçar e não saber quando chegará o cume é a angústia de todos nós, alpinistas.

E assim,tenho me mantido parado num degrauzinho desta rocha, onde apóio meus pés. Falta a coragem de fazer os braços trabalharem como deve para se chegar lá, e jogar meus pés assentes nos ares para prosseguir. O Medo tem sinônimo de Inércia nessas bandas. Sei sim, existem pessoas abaixo de mim, paradas em outros degraus semelhantes a este tão cômodo - perigoso- que é o meu. Mas de que adianta? O sofrimento não vem pelos que os outros alcançaram, mas do que eu desejo alcançar. Se pago pecado por ser fraco ou ambicioso demais, não sei. Mas prefiro acreditar que pago pelo medo em forma de indecisão, ou até mesmo ócio.

Medo da queda? Eu lá tenho medo de algo que acabaria com tudo tão rápido, mas tão rápido que seria quase que indolor? Não. Medo da derrota não. A derrota significa fim, talvez não de tudo, mas de um ciclo. E nem toda derrota é infrutífera - disso eu também sei. Muito bem, aliás.

"Vou ter a maior aparência de quem fracassou. Mas só eu saberei se a derrota foi necessária" (Clarice Lispector)

O medo, querido leitor é da trajetória mesmo. Árdua, pesada, com plantas com espinhos que quase posam de plantas carnívoras nestes canteiros de rocha ao longo deste bruto e vertical caminho. E pensar nisto me mantém com os pés no chão, quando, repito, preciso pô-los nos ares...


Claro que o cansaço ajuda a manter a pasmaceira, eu sei.

Ah meu signo regente, A Cabra Marinha. Rabo de peixe, do fundo do mar, mas sempre subindo atrás de ruminar a mais tenra e rara gramínea que possa existir no topo gelado dessa montanha. Desiderata, desejo, força de vontade. E a mim, inveja. Inveja e receio. Queria ser assim, deve ser por isso que não sou muito de acreditar em horóscopo...

Mas vá lá, já chega de pautas derramadas com dose de melancolia pisciana - meu ascendente, peixes. Vá lá, aceitemos algumas verdades inescapáveis, por assim dizer:

Não é a primeira rocha que escalo
Não é a primeira pera que retiro
Não é o primeiro espinho que arranco da carne

Enfim, não é o primeiro medo que sinto.
Não sei se será o primeiro medo que não superarei...


Mas vai passar, anseio ficar mais forte ainda que hoje. Já é dada a hora, digo, é o momento de tentar e não parar pra pensar. Fechar os olhos e arriscar se cai ou se segura nuns apoios mais ao alto. Olhando pra cima podem-se ver nuvens, algumas negras, anunciadoras de chuva. Bom, ao menos medo de me molhar eu nunca tive.

Um dia tem que começar. Melhor, um momento tem que começar... Pensando assim, posso transformar esse momento em 'agora'.